A coligação imperialista começa a fracturar-se Nova estratégia do imperialismo na guerra da Ucrânia?

Ajudar a Ucrânia”… há ano e meio que Chefes de Estado, ministros, chefes políticos da direita e da “esquerda” de todos os países da NATO não têm senão essas palavras na boca.

A contra-ofensiva que começou em Junho assentava na esperança de que o exército ucraniano, equipado com armas ocidentais modernas e treinado na Alemanha e na Grã-Bretanha, recapturasse território suficiente para colocar os seus chefes numa posição forte nas negociações a vir. Ou, melhor ainda, que os recuos russos induzissem a queda de Putin e mergulhassem a Rússia no caos militar e político.

A destruição da Rússia como nação, substituída por satrapias de senhores da guerra mafiosos prontos a vender os recursos da Rússia em saldo aos imperialismos ocidentais, é uma velha estratégia de Washington, formulada com clareza pelo velho Brzezinski, mas hoje de novo abertamente repetida na imprensa da alta finança.

O problema: a grande contra-ofensiva estagna

Têm-se imolado dezenas de milhares de vidas de soldados ucranianos e russos, a produção de armas no mundo, principalmente na América, dispara e, com ela, os lucros astronómicos do complexo militar-industrial – mas pouco mais.

Na imprensa em que os estrategas e comentadores ao serviço do imperialismo EUA e aliados falam entre si já não há dúvidas: a contra-ofensiva que “levaria a Ucrânia à vitória” é um colossal fiasco. Só nas máquinas de propaganda para as massas, como as televisões e folhas como o Público (e equivalentes em cada país) tal ideia continua tabu.

Procura-se, então, uma nova estratégia para a guerra imperialista; e impõe-se preparar a opinião pública.

Não é fácil: há que justificar as já perto de, entre EUA e UE, duas centenas de milhares de milhões de dólares e euros de ajuda ao governo Zelensky, sobretudo ajuda militar para prolongar a guerra, que alimentam a inflação galopante em todo o mundo, forçam cortes drásticos nos orçamentos dos serviços públicos e deterioram as condições de vida de centenas de milhões.

Nas palavras do coronel Richard Kemp (um antigo oficial inglês): “O tempo está a chegar ao fim. Após 18 meses de guerra, a questão já não é saber se a aliança ocidental se irá desagregar, mas quando. O Ocidente continua empenhado na contra-ofensiva da Ucrânia – mas há cepticismo quanto aos objectivos finais de Zelensky.

Na sua mais recente visita a Washington, o mesmo Zelensky, criatura dos EUA e da UE, declarava que “tenho que estar preparado para uma guerra de longa duração”.

Com efeito, o The Economist admoestava, a 23 de Setembro, que “infelizmente, a Ucrânia ainda não está preparada; nem os seus parceiros ocidentais. Ambos continuam fixados na contra-ofensiva. Precisam de repensar a estratégia militar e económica para a Ucrânia. Em vez de visar a “vitória” e a seguir reconstruir, o objectivo deve passar a ser dotar a Ucrânia do arcaboiço para travar uma guerra de longa duração – e prosperar ainda assim. (…)”

Raciocina The Economist que “a economia encolheu um terço e quase metade do orçamento da Ucrânia é pago com dinheiro ocidental. (…) Com cerca de um milhão de pessoas carregando armas e milhões de pessoas fugindo do país, os trabalhadores são escassos. A economia da Ucrânia precisa de deixar de depender da ajuda e passar a atrair investimento, mesmo que o conflito continue a agravar-se. Desde fabricar mais armas até processar mais daquilo que cultiva nas suas explorações agrícolas, a Ucrânia tem muito potencial. O desafio é fazer com que as empresas locais e estrangeiras invistam mais e atrair mais ucranianos de volta para as zonas mais calmas do país, no oeste.”

A estratégia de fazer da Ucrânia um “novo Israel”, um Estado militarizado encravado no corpo do inimigo e inteiramente sustentado pelo orçamento do Estado americano, já antes viera à colação. Diferença importante: ao contrário do velho Israel, os EUA exigem, no caso do novo, que sejam os seus subalternos europeus a pagar a factura.

A reorientação proposta pelo imperialismo: guerra permanente na Europa Oriental

Ainda The Economist: “Novas tácticas e tecnologias podem levar a guerra até à Rússia. (…) esquadrões de F-16 e mais sistemas de defesa antimísseis são essenciais. (…)”

Contudo, nos EUA, Biden, que, nas palavras de Kemp “tem arrastado os pés, prestando assistência militar suficiente para manter a Ucrânia na luta, mas, intencionalmente, não a suficiente para permitir uma vitória”, enfrenta sérios problemas “domésticos”, com o orçamento agora paralisado.

A ideia de isolacionismo avoluma-se no país, reflectindo divisões cada vez mais profundas na classe dominante. O bando isolacionista, Trump e parte do Partido Republicano, não visa, entenda-se, “virar as costas à Ucrânia e deixar a Rússia ganhar”. Visa obrigar os “parceiros europeus” a amanharem-se para custearem integralmente a guerra, colhendo os EUA apenas os lucros – ainda que o preço seja mergulhar a Europa no caos e na barbárie que já imperam em grande parte do mundo.

As tensões e o medo acentuam-se, assim, cada vez mais, no próprio campo imperialista que fomenta e lucra com a guerra. As fracturas entre os grandes deste mundo ficaram patentes na cimeira dos “G20”. Mesmo nas fileiras da NATO, as fissuras são já indisfarçáveis. O confronto entre os governos ucraniano e polaco e a eleição na Eslováquia são sinais claros.

Do mesmo passo, começa a esboroar-se a “união sagrada” a que a maior parte dos dirigentes do movimento operário europeu se acorrentou. E começa a ganhar contornos o movimento de oposição e resistência à guerra imperialista entre os trabalhadores (veja-se, por exemplo, o apelo de sindicalistas alemães, página 10 deste número).

E, na verdade, só a juventude e o movimento operário organizado podem acabar com a guerra imperialista. É tempo de todas as organizações que falam em nome dos trabalhadores se apearem do carro da guerra e responderem a uma só voz:

Cessar-fogo imediato!

Confisco dos milhares de milhões de orçamentos de guerra em benefício das necessidades das populações! Nme Biden, nem Putin, nem NATO!