BSW: Novo partido de Sahra Wagenknecht na Alemanha

Sahra Wagenknecht
Cortes nas prestações e difamação racista dos migrantes

Por Norbert Müller, freie Plattform für Arbeiterpolitik, 20 de Novembro de 2023

Quem é realmente perseguido deve ter protecção e direito a benefícios; àqueles, porém, que vêm por causa das diferenças de bem-estar, temos de oferecer uma perspectiva no país de origem.” Assim reproduz Wagenknecht a narrativa de “refugiados económicos” e refugiados “autênticos”. Dá a impressão de que refugiados que não são perseguidos políticos evidentes podiam perfeitamente viver muito bem no seu país e só vêm para cá porque se querem valer do “nosso bem-estar“, como parasitas. É assim?

É consabido que ‘neocolonialismo’ designa Estados que são formalmente independentes, mas com economias dependentes de actores estrangeiros, por exemplo dos grandes países industrializados e respectivos grupos económicos e outros grandes capitalistas. A maioria dos países do continente africano está neste grupo de Estados dependentes, cujas indústria e estruturas comerciais, assim como a extracção de matérias-primas, pertencem em grande parte a empresas estrangeiras. Funcionam como ventosas dos grandes grupos globais, que sugam os recursos naturais, exploram a população trabalhadora com salários miseráveis e sufocam a economia nativa. A parte de leão da riqueza social aflui aos grandes grupos empresariais com presença global. Há países onde os países imperialistas industrializados seguram com meios militares o prevalecimento dos seus interesses. Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Mali e Níger são meros exemplos de uma cadeia longa. Em muitos destes países, há movimentos de libertação que conjugam a luta contra o domínio neo-colonial estrangeiro com a luta contra os exploradores nacionais.

Percebe-se, porém, perfeitamente por que é que pessoas que, por exemplo, não conseguem alimentar as suas famílias devido à falta de perspectivas da economia nacional dos seus países – por exemplo, sem perspectivas de frequência escolar regular para os seus filhos, etc. – deixam a sua terra natal e procuram asilo na Europa, ali procurando construir uma vida melhor, que valha a pena viver – na Europa, isto é, em países muitos do quais têm grandes responsabilidades no cartório pela falta de perspectivas das condições de vida da população trabalhadora daqueles países.

Sahra Wagenknecht quer, porém, impedir estas pessoas de virem para a Alemanha: diz ela que os requerentes de asilo sobrecarregam muitas autarquias. Dever-se-ia, por conseguinte, limitar o asilo, restringindo as prestações: “Um país onde não há direito a subsídios não é, naturalmente, um país de destino de migrações, ninguém para lá vai“. E, só para deixar logo claro qual é o género de pessoas que supostamente para cá vêm, Wagenknecht declarou ao Neue Osnabrücker Zeitung de 9 de Setembro que a Alemanha não deve, em nome de uma tolerância mal entendida, admitir que se “propalem no nosso país ensinamentos de ódio religioso nem que se explore o nosso Estado social”. Sahra Wagenknecht acompanha a continuação da empresa de destruição das conquistas sociais no sector social com agitação e divisão racistas: diz que os migrantes ainda fazem concorrência sos socialmente mais desfavorecidos na Alemanha: “Muitos presidentes de câmara referem que toda a habitação social das suas cidades está ocupada por refugiados“. O mesmo, dos lugares em creches e da qualidade do ensino nas escolas.

Mas no que tal política dá é em expandir a Europa fortaleza, excitar locais contra refugiados, largar na miséria a maioria dos refugiados que cá vivem até ninguém mais querer vir voluntariamente, aumentar as deportações – tudo culminando em campos desumanos atrás das fronteiras externas da UE.

O movimento operário só pode lutar contra esta política, contra o incitamento racista e contra a divisão que Sahra Wagenknecht alimenta. Para a classe trabalhadora, o apoio aos movimentos de libertação contra o domínio imperialista dos países mais fracos é tão natural como a luta pelo direito de asilo sem restrições.

Do anúncio de um novo partido

Como escreve Norbert Müller, Wagenknecht está a dividir os trabalhadores conforme tenham raízes do lado de cá ou do lado de lá das fronteiras da UE. Tal divisão já serviu de base para que, há trinta anos, o governo Kohl, em associação com a direcção do SPD, desmantelasse o direito de asilo na Alemanha.

Quando o “Manifesto” da BSW (Aliança Sahra Wagenknecht) foi apresentado, abandonaram o partido “Die Linke” (​A Esquerda) dez membros do seu grupo parlamentar: Amira Mohamed Ali (Baixa Saxónia), Christian Leye (NRW), Ali Al-Dailami (Hesse), Sevim Dagdelen (NRW), Klaus Ernst (Baviera), Andey Hunko (NRW), Zaklin Nastic (Hamburgo), Jessica Tatti (Baden-Württemberg) Alexander Ulrich (Renânia-Palatinado) e Sahra Wagenknecht (Renânia do Norte-Vestefália). É notório que ninguém do Leste se juntou.

O manifesto do BSW é reaccionário e pequeno-burguês. Mas seria errado ficarmo-nos por aí. Importa mais analisar agora com muito cuidado se, do lado do trabalho, vai haver forças a tentarem referenciar-se-lhe. Se é o presente manifesto que vai servir de base ao programa do partido, poucas serão as forças oriundas da classe trabalhadora a sentirem-se atraídas pela BSW. O Comité para um Partido dos Trabalhadores analisará cuidadosamente o processo.