Os médicos lutam por aumentos salariais que reponham o seu poder de compra onde estava há vinte anos e por horários de trabalho compatíveis com a vida.
Facto curioso: os médicos não precisaram de fizeram nenhuma greve. Limitaram-se, organizados em redes de comunicação colectivas, a assinar, um a um, um papel a dizer que iriam continuar a trabalhar como sempre e a prestar as horas extraordinárias a que a lei os obriga – mas não mais…
Resultado: colapso geral do sistema!
Como referia o DN em 27 de Novembro, o “Ministro da Saúde reconhece que o sistema está dependente de milhões de horas extraordinárias”.
A luta dos médicos ilustra poderosamente o estado a que os sucessivos governos têm reduzido o SNS: crise crónica, desinvestimento deliberado e sistemático.
Sem os médicos a trabalhar 12 horas por dia e mais, nada funciona — porque não há médicos suficientes e porque a má paga, por um lado, e os contratos milionários do Estado com o sector privado, por outro lado, empurram constantemente o pessoal de saúde para o privado, num círculo vicioso em que o orçamento do SNS aumenta, mas cada vez mais dinheiro vai para contratos externos, tarefeiros fornecidos por agências, exames e cirurgias terceirizados, que custam o dobro ou o triplo…
Aconteceu recentemente no Hospital Amadora/Sintra haver um único médico para 600 doentes (não é caso único); serviços encerram durante a semana ou ao fim de semana (obstetrícia, ginecologia, pediatria….); desprogramam-se sistematicamente consultas e cirurgias.
Nada disto é por acaso. O antigo ministro das finanças de Costa, Centeno, agora governador do Banco de Portugal e zeloso aguadeiro das ordens de Bruxelas, publicou, para governo do governo, uma instrução clara para o orçamento: reduzir a despesa permanente! Tudo menos empregar pessoal no quadro permanente! (ver O Trabalho nº 31-32).
Tão-pouco é só em Portugal. A UE impõe políticas de destruição dos sistemas públicos de saúde em todos os países. Tem havido greves significativas no sector em Inglaterra, França, Espanha… O perdido ministro Pizarro não sabe o que mais há-de fazer. Como escreveu a jornalista Ana Sá Lopes à sua maneira (ver editorial): sem romper com o espartilho da União Europeia, não é possível defender a saúde dos trabalhadores, a vida dos médicos e enfermeiros, os direitos de Abril.