Gaza: Ousar Romper!

A situação em Gaza é “apocalíptica” para a população civil. Di-lo Josep Borrell, vice-presidente da Comissão Europeia e chefe do seu serviço diplomático, que acrescenta: “A destruição de edifícios em Gaza é mais ou menos idêntica ou mesmo maior do que a destruição sofrida pelas cidades alemãs durante a Segunda Guerra Mundial“. O Secretário-Geral da ONU descreve, pelo seu lado, Gaza como “um cemitério de crianças“.

Quase 2 milhões e meio de palestinianos encurralados cambaleiam pelo apocalipse criado por mais de 10.000 ataques israelitas, que semeiam a morte a cada esquina; quase 80.000 mortos ou feridos*; fome generalizada, doentes privados de cuidados, 85% da população deslocada.

Como reagiram à denúncia do apocalipse por Borrell os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 países da União Europeia, que se reuniram com ele em 11 de Dezembro? A proposta de vários países, pediram sanções adicionais contra o Hamas.

Sanções? Se a ideia é travar a ofensiva “apocalíptica” que devasta Gaza, sanções devem apontar a quem é responsável. A saber, Israel e o governo de Netanyahu, mas também os Estados Unidos e a administração Biden, que – pelo seu apoio militar, financeiro, político e diplomático – tem responsabilidade esmagadora na situação.

O mais urgente, para qualquer pessoa que se preocupe com a humanidade – independentemente do ponto de vista que tenha sobre o Hamas ou sobre a solução política no Médio Oriente – é as crianças palestinianas poderem viver, ter alimento e quem cuide delas.

A prioridade mais urgente é pôr termo à ofensiva assassina.

Na reunião do Conselho de Segurança da ONU de 8 de Dezembro, os Estados Unidos bloquearam o apelo a um cessar-fogo. Isto demonstra duas coisas. Primeira, que não se pode esperar nada da ONU, que há 75 anos se mantém fiel à sua Resolução de 1947 que impôs a partilha da Palestina, causa dos sofrimentos infligidos desde então a todos os habitantes da região. Segunda, que o amplo consenso em torno da palavra de ordem de “cessar-fogo” é, no mínimo, enganador.

Sim, temos de exigir o fim do poder de fogo largado por Israel sobre a população palestiniana! Mas também temos de exigir que as tropas israelitas se retirem da Faixa de Gaza e que o cerco seja levantado, de modo que se possam reunir recursos para alimentar e cuidar da população e salvá-la! Mais: que as organizações da classe trabalhadora apelem aos trabalhadores para embargarem o envio de armas para Israel e se mobilizarem para pôr fim à ajuda militar e financeira dada a Israel pelos Estados Unidos e por todas as potências capitalistas!

Ao fazê-lo, torna-se imperativo ousar romper com o Partido Democrático. Não se trata apenas de Joe Biden – “o presidente do genocídio” – mas da instituição que é o Partido Democrático, que há 75 anos apoia incondicionalmente o governo israelita e o seu ataque apocalíptico contra o povo palestiniano. 

Ousar romper com a ordem imperialista, neste terreno de luta como em todos os outros!

Só a unidade dos trabalhadores e dos povos pode trazer a paz ao mundo.

Ousar romper!

Nota
*Até 30 de dezembro, foram mortos 21.672 e feridos 56.165 palestinianos. Contudo, é de esperar que o número real de mortos seja superior, dado não ser possível extrair corpos dos escombros.

Adaptado do editorial do nº 126 de The Organizer, jornal da secção americana do Comité de Organização pela Reconstituição da IVª Internacional, 31 de Dezembro de 2023.