Editorial do nº34 d’O Trabalho

No dia 10 de Março, poucos serão os eleitores que, se votarem, o farão para apoiar o programa de um dos partidos concorrentes.

Em 2015, o mundo do trabalho depositou, com o seu voto, a esperança de que fosse voltada a página das contra-reformas e cortes da troika.

Oito anos de governos teoricamente de esquerda trouxeram, contudo, duas conclusões árduas, mas, no fundo, simples.

1) Mudanças sérias são impossíveis sem romper com a alçada da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. São eles que mandam nos orçamentos, na legislação laboral, na agricultura, nas possibilidades de intervenção do Estado, no investimento…

2) E nem o PS nem as direcções do Bloco de Esquerda e do PCP estão interessadas em tal ruptura.

Pior: mesmo em domínios não directamente abrangidos pelos tratados da UE, o PS subordinou-se sem reservas às ordens do imperialismo americano e pôs o país ao serviço das guerras da NATO e dos EUA. Não só o PS. Também a direcção do BE, para indignação de muitos jovens e trabalhadores.

Sobretudo do lado dos trabalhadores e da juventude, o voto já só serve, praticamente, para tentar impedir “males maiores”, como a anunciada (e promovida) extrema-direita, cuja ala nazi ousou marchar em Lisboa, protegida pelos escudos da polícia de choque.

A defesa dos salários, do emprego, da saúde, da habitação, da paz não se resolverá, porém, nas eleições.

É bom recordar, neste cinquentenário do 25 de Abril, que tudo o que os trabalhadores ainda têm de bom neste país resultou da sua mobilização auto-organizada: da revolução.

 ● Foram os trabalhadores organizados nas suas Comissões de Trabalhadores e sindicatos que arrancaram, com greves e ocupações, o salário mínimo e aumentos substanciais dos salários – e, mais tarde, a nacionalização da banca e dos sectores estratégicos da economia.

 ● Foram os operários agrícolas organizados que ocuparam os latifúndios e fizeram a reforma agrária.

 ● Foram os moradores organizados em comissões que começaram a acabar com as barracas e a ocupar e construir habitação popular.

 ● Foram os soldados que tornaram impossível continuar a guerra colonial e, em assembleias de quartel, impediram a repressão dos trabalhadores.

 ● Foram os estudantes e professores que, nas escolas e universidades, e também em missões pelas aldeias e vilas do país, começaram a construir o ensino público e universal.

 ● Foram os médicos e pessoal hospitalar que começaram a construir o serviço nacional de saúde nos hospitais e centros.

A Constituição e as leis vieram depois. Consagraram, por vezes, uma parte do que se ganhara.

Construir um Partido dos Trabalhadores

Quando mudou a relação de forças e o movimento de massas recuou, chegaram novas leis e revisões constitucionais, que desbastaram, diminuíram, retiraram direitos e salários.

Porém, o número e a força potencial dos trabalhadores explorados não cessou de aumentar.

O que tem feito mal ao povo trabalhador não é a falta de força ou de número.

Tem-lhe feito mal que as direcções políticas em quem confiaram e em quem muitos votam para se defenderem tenham optado por uma vida de concertações de cúpula com o Estado e o patronato, de desmobilização e divisão das fileiras dos trabalhadores, de greves desunidas, “cada uma por si” – em vez de juntarem o clamor de insatisfação e raiva que sobe das massas trabalhadoras deste país num só movimento, numa só greve geral para fazer recuar o patronato e o Estado.

Esta política de divisão abriu caminho ao alastramento do desespero. E o desespero e a desorganização é o terreno em que prosperam os demagogos fascistas e os vendedores de banha da cobra.

Nas páginas centrais, uma série de militantes do movimento operário lança um convite a todos os que não se conformam: juntemo-nos numa plataforma de discussão e intervenção para construir, reconstruir um autêntico Partido dos Trabalhadores.

É o que mais falta faz: um partido que erga bem alto a bandeira do governo dos trabalhadores e do socialismo.

Um partido que preste exclusivamente contas aos próprios trabalhadores.
Um partido que ajude a unir.
Um partido que ajude a vencer.

Juntemo-nos!