Sob intensa pressão da administração americana, Israel prolongou até 10 de março o seu ultimato para a libertação dos reféns detidos em Gaza. Caso contrário, o exército israelita atacará Rafah, provocando um banho de sangue.
* “Catástrofe”: a expulsão de 800.000 palestinianos em maio de 1948.
Netanyahu tinha anunciado um ataque “iminente” a Rafah, onde 1,5 milhões de palestinianos famintos e sedentos são regularmente bombardeados. Se a administração americana se empenhou a fundo para obrigar Netanyahu a adiar o seu banho de sangue – no momento em que escrevemos – é sobretudo porque está em apuros a nível interno.
A 13 de Fevereiro, no Senado, ao explicar por que razão votou “contra” os 14 mil milhões de dólares para Israel pedidos por Biden, o senador democrata Welch dirigiu-se solenemente a Biden: “Esta não é apenas a minha opinião pessoal, mas a da maioria dos eleitores do Estado de Vermont que me contactaram. Durante anos, Senhor Presidente, tal como V. Exa., votei a favor de dezenas de milhares de milhões de euros de ajuda a Israel. Mas não posso continuar a gastar os dólares dos contribuintes americanos para financiar os intermináveis bombardeamentos de Netanyahu“.
Os líderes do Partido Democrata, tal como a comitiva de Biden, sabem que centenas de milhares de jovens e trabalhadores – alguns deles eleitores democratas – anunciaram que não vão votar em Genocide Joe (Joe Genocida). São cada vez mais os que brandem uma palavra de ordem: “Desiste, Biden!” E numa sociedade que se afirma como uma sobreposição de “comunidades”, o USA Today (17 de Fevereiro) regista o movimento crescente entre os “americanos árabes”: tradicionalmente eleitores democratas, “sentem um profundo sentimento de traição. E querem que Joe Biden seja derrotado em 2024“. Assim, a administração Biden está a exercer pressão sobre Netanyahu… continuando a fornecer-lhe armas.
Está também a pressionar outro vassalo dos EUA: o Egipto. O regime militar egípcio, que controla a passagem de Rafah, recusou-se até agora a aceitar palestinianos de Gaza no seu território. Demasiado perigoso para o regime do marechal Sissi, que se esforça por controlar um país à beira de uma explosão social. As pressões de Washington – que paga mil milhões de dólares por ano ao exército egípcio – foram enormes, chegando mesmo a prometer o perdão de uma parte da dívida do Egipto.
O regime egípcio parece ter cedido às pressões americano-israelitas. Apesar dos seus desmentidos, fontes anónimas citadas pelo Wall Street Journal confirmam que foi construída uma gigantesca “zona de segurança” no deserto do Sinai, para acolher mais de 100.000 pessoas. A obra foi confiada ao empresário (e chefe de milícias armadas) Ibrahim al-Arjani, um colaborador próximo do clã Sissi. O jornalista londrino Mohannad Sabri observa: “O Egipto pode estar a preparar-se para aceitar e autorizar a deslocação da população de Gaza para o Sinai, em coordenação com Israel e os Estados Unidos“. Apanhados entre o genocídio de Netanyahu e o campo de concentração de Sissi, o milhão e meio de palestinianos amontoados em Rafah seriam então vítimas de uma segunda Nakba, muito pior do que a de 1948. Nenhum trabalhador, nenhum democrata pode aceitar isso. É da responsabilidade do movimento operário em cada país e à escala internacional impedir esta nova catástrofe. O apelo dos sindicatos indianos (ver neste site) indica o caminho a seguir.