“Aaron Bushnell sacrificou a sua vida como mais um sinal de pontuação numa história de horror”

[Tradução da imagem: “O seu nome era Aaron Bushnell; as suas últimas palavras foram: libertem a Palestina!”]

Na tarde de 25 de Janeiro, um membro activo da Força Aérea dos Estados Unidos, fardado, imolou-se pelo fogo junto ao portão da embaixada de Israel em Washington, em protesto contra o papel do imperialismo norte-americano no genocídio em Gaza.

Nessa manhã de domingo, Aaron Bushnell de 25 anos, engenheiro informático e de cibersegurança da Força Aérea dos EUA, terá contactado vários jornais e postado no X a seguinte mensagem: “Chamo-me Aaron Bushnell, sou um membro activo da Força Aérea dos Estados Unidos e deixarei de ser cúmplice de genocídio. Planeio envolver-me hoje num acto extremo de protesto contra o genocídio do povo palestiniano, mas, que comparado ao que as pessoas têm passado na Palestina nas mãos dos seus colonizadores, não é nada extremo. Isto É o que a nossa classe dominante decidiu que será normal.” Afirmou ainda que o seu acto seria transmitido ao vivo no Twitch.

Na mesma manhã escreveu no Facebook: “Muitos de nós interrogamo-nos: ‘Que faria eu se vivesse durante a escravatura? Ou o Jim Crow South? Ou o apartheid? O que faria se o meu país estivesse a cometer genocídio? ‘ A resposta é: isso está a acontecer. Agora mesmo.” O post incluiu o link para um stream ao vivo do seu protesto no Twitch, que retirou o vídeo por violação das suas condições e termos de serviço.

Não serei mais cúmplice do genocídio. Estou prestes envolver-me num acto extremo de protesto“, repetiu Bushnell, em filmagens visionadas pela Time, quando caminhava em direção aos portões da embaixada de Israel. Junto a estes pousou no chão o telemóvel, despejou sobre si um acelerante líquido e com um isqueiro incendiou-se gritando repetidamente: “Libertem a Palestina!”.

O vídeo também mostra o triste espetáculo de um membro da segurança da embaixada (ou polícia à paisana?) que, perante a cena de um jovem no auge da sua vida em chamas para chamar a atenção para o sofrimento do povo palestiniano lhe aponta uma arma, exigindo que “se deite no chão“.

Aaron viria a morrer no dia seguinte no hospital.

Imediatamente os media mainstream iniciaram uma campanha sugerindo uma possível ameaça à segurança da embaixada e dos seus funcionários ou que se tratava de um acto tresloucado de um homem perturbado.

Perturbado, talvez, como tantos de nós que sentem o desespero da raiva impotente contra o genocídio em Gaza levado a cabo pelo poderio militar do imperialismo americano e seus lacaios contra um pequeno povo oprimido e indefeso.

Lúcido ao colocar a culpa nos verdadeiros responsáveis: a classe dominante; Bushnell era apoiante dos grupos anarquistas Burning River Anarchist Collective (Colectivo Anarquista de Burning River) e Mutual Aid Street Solidarity (Solidariedade de Ajuda Mútua de Rua) no Facebbook.

Do meio do eco de emoção desencadeado nas redes sociais por este acto de autossacrifício por parte de um único homem destacamos um extracto de um post de um seu camarada no Facebook do Burning River Anarchist Collective:

Aaron Bushnell sacrificou a sua vida como mais um sinal de pontuação numa história de horror; mais um ataque frontal contra o rio de indiferença e insensibilidade que contém um rio de sangue no seu leito. Sabendo que vivemos em um mundo onde a vida de um palestiniano vale muito pouco para os que estão no poder, ele olhou para a pira que nosso governo ajudou a alimentar, sobre a qual as crianças de Gaza estão a ser lançadas, e lançou-se para ela. Ele, um americano branco, lançou-se para ela para que eles saibam que, se vão queimar crianças palestinianas, então homens como ele também arderão.

Ista não é uma glorificação; não é um endosso; muito menos um incitamento. É um tributo.