Fome, bombardeamentos e a ameaça de um ataque terrestre
Em 21 de Fevereiro, para o Arte, Rami Abu Jamas, jornalista na Faixa de Gaza, descreve a vida quotidiana de um milhão e meio de palestinianos, refugiados e sitiados em Rafah. “É uma vida muito dura. É muito, muito difícil para as mulheres e as crianças. Imaginem as mulheres que têm de fazer fila durante horas para utilizar as únicas casas de banho comunitárias. Imaginem as mulheres e as crianças que esperam horas para tomar um duche no hospital, uma vez por quinzena. Não há leite, não há medicamentos para as crianças. Vê-se nos rostos das pessoas o quanto envelheceram em apenas algumas semanas.
Vê-se o cansaço, o medo, a angústia nos seus rostos. Estamos entre a vida e a morte. Algumas pessoas estão debaixo de lonas. A sua última esperança é encontrar uma tenda, mesmo que não tenham dinheiro para a comprar. Todos os preços aumentaram pelo menos dez vezes. Atualmente, a maioria das pessoas depende da ajuda humanitária e, se esta acabar, estaremos todos mortos. Tenho amigos que usam ração animal para fazer farinha – é inacreditável. Não há água potável. Vamos buscar água salgada ao mar ou fervemo-la para a tentar purificar. Não há infra-estruturas mediáticas, os israelitas destruíram tudo“.
Esta realidade não impede Netanyahu de manter a ameaça de que o exército israelita irá lançar um ataque terrestre a Rafah, que já está a ser bombardeada diariamente pela sua força aérea. É verdade que a administração Biden está a conduzir conversações com Israel e o Hamas (através do Qatar e do Egipto) com vista a uma “trégua humanitária”. Um “cessar-fogo temporário” em troca da “libertação dos reféns”. No entanto, em 25 de Fevereiro, Netanyahu declarou que, mesmo que essas tréguas fossem concluídas, apenas “atrasariam” o assalto de Rafah, o que, segundo ele, colocaria Israel “a algumas semanas da vitória final“. Num gesto para a administração Biden, Netanyahu afirma, em tom de brincadeira, que os civis “poderão evacuar Rafah“.
Na realidade, Netanyahu, tal como Biden, sabe que pode contar com a cooperação do regime do marechal Sissi. Após meses de tergiversações, o chefe do exército egípcio aceitou finalmente que os sobreviventes do massacre de Rafah sejam transferidos para um gigantesco campo de concentração no deserto do Sinai. Este escândalo foi revelado pela Fundação Sinai para os Direitos Humanos (FDH), que se vê agora confrontada com uma campanha de difamação e ameaças do regime egípcio. Perante Netanyahu e os seus cúmplices, os governos das grandes potências que armam Israel, os trabalhadores do mundo devem exigir: Nem um cêntimo, nem uma arma para o Estado de Israel. Rompam todos os laços com os assassinos!