Ataque sangrento em Moscovo e “estado de guerra”

Um massacre atroz ocorreu num centro comercial em Moscovo (137 mortos). O massacre foi reivindicado pelo ramo do Estado Islâmico que opera na Ásia Central e no Afeganistão ⎼ um desses “movimentos bastante nebulosos em que o nível de intervenção dos diferentes serviços secretos é algo que nunca saberemos” (Gilles Kepel, politólogo, France Inter, 25 de Março).

Putin acusou a Ucrânia de estar por detrás do ataque, enquanto Zelensky acusa a Rússia. É verdade que os dois regimes já promoveram atentados. O regime ucraniano está oficialmente implicado nos ataques de 26 de Setembro de 2022 contra os gasodutos russo-alemães Nord Stream 1 e 2. Quanto ao FSB russo, fez explodir vários blocos de apartamentos na Rússia em Agosto-Setembro de 1999, para colocar Putin no poder e desencadear a segunda guerra da Chechénia.

Seja quem for o responsável por esta tragédia, ela é utilizada por todos os governos belicistas para apelar ao apoio da população.  Algumas horas antes do atentado, o governo russo já tinha ido mais longe, utilizando as declarações provocatórias de Macron. O porta-voz do Kremlin declarara que “estamos em estado de guerra“*. Puxando a união sagrada um passo mais, a direcção do Partido Comunista da Federação Russa (KPRF) declarou, a 17 de Março, que apoiaria Putin como “Comandante-em-Chefe dos Exércitos” e apelou a “todo o povo russo” para o apoiar.

Um militante comunista siberiano que se opõe à guerra comentou: “Isto só confirma que o Partido Comunista, que nunca foi uma verdadeira oposição, foi agora transformado num lacaio da classe dominante (…) numa tentativa de paralisar o pensamento e a acção da classe trabalhadora russa“.

* Até agora, a utilização pública da palavra “guerra” em relação à Ucrânia era proibida sob pena de prisão.