Tensões crescentes entre Biden e Netanyahu

As tensões estão a aumentar ao mais alto nível em Israel, mas também entre as grandes potências e Netanyahu.

Este último obstina-se em anunciar o assalto iminente a Rafah, sobrepovoada e a morrer de fome, “com o vosso apoio ou sozinhos”, como disse ao Secretário de Estado americano, em visita a Telavive a 22 de Março. Netanyahu não está apenas a pôr em jogo a sobrevivência do seu governo de coligação de extrema-direita, mas a sua sobrevivência política.

Os seus ministros desdobram-se em declarações cada vez mais delirantes. A última: o ministro dos Negócios Estrangeiros acusou a ONU de ser “uma organização anti-semita e anti-israelita que alberga e incentiva o terrorismo“… esquecendo que foi graças à Resolução 181 da ONU, de 29 de Novembro de 1947, que foi imposta a partição da Palestina, permitindo a expulsão de 750.000 palestinianos e a criação do Estado de Israel, em 1948.

Mas a fuga para a frente de Netanyahu não coincide com os interesses do imperialismo americano. Em continuando Netanyahu as suas provocações no Líbano e na Síria, o risco é que tudo acabe na desagregação do Estado de Israel e numa guerra regional…

Em apuros, a caminho das eleições presidenciais de Novembro, e já atolada na guerra na Ucrânia, a administração Biden precisa de tudo menos disso. Segundo o canal israelita N12, as tensões entre Netanyahu e a delegação israelita nas negociações em curso no Qatar chegaram a um nível “dramático”.

Isto porque, nestas negociações, o imperialismo americano, para preservar um mínimo de estabilidade, precisa de impor um acordo a toda a gente: ao Hamas, através do Qatar, como a Israel e aos regimes árabes. Enquanto isso, na Jordânia, manifestações de massas tentavam invadir a embaixada israelita, gritando “Não queremos embaixada sionista na nossa terra!

Pela mesma razão deixaram os Estados Unidos passar uma resolução a favor do cessar-fogo no Conselho de Segurança da ONU, a 25 de Março, abstendo-se. Os EUA tinham vetado todas as resoluções anteriores. A resolução terá efeito meramente simbólico, tanto mais que o fornecimento de armas continua!

Como bem diz o académico israelita Haim Bresheet: “O que nós queremos não é o cessar-fogo, porque depois do cessar-fogo haverá outra vez fogo. O que queremos é o fim do projecto sionista, uma nova Palestina, onde judeus, cristãos e muçulmanos vivam juntos, como no passado (…), sem genocídio, sem anti-semitismo nem islamofobia, sem pogroms, sem holocaustos“. Por trás desta crise irrompem, com efeito, as questões fundamentais. Um longo artigo do New York Times (22 de Março) afirma que “muitos progressistas que anteriormente apoiavam Israel ou evitavam o assunto estão agora a abraçar a causa palestiniana“. O artigo nota, ainda, que, o chefe democrata no Senado, Chuck Schumer, referiu, em discurso recente, que “consegue compreender as soluções idealistas apoiadas por tantos jovens (americanos – nota do editor), nomeadamente a favor de uma solução de Estado uno“.

Traduzido e adaptado de Dominique Ferré, La Tribune des Travailleurs nº433.