Gaza: a quarta geração da Nakba* não desiste de regressar

Apesar do genocídio e da cumplicidade das grandes potências

* Nakba (“catástrofe”): a expulsão de 750.000 palestinianos da sua terra em Maio de 1948.

Enquanto o Tribunal Penal Internacional estuda um mandado de captura para Netanyahu e o seu ministro da Defesa, o genocídio em Gaza continua, graças ao fornecimento ininterrupto de armas de Biden e das grandes potências. Mas a 14 de Maio, no Estado de Israel, 15.000 palestinianos – e activistas judeus – marcharam pelo direito de regresso.

O meio de comunicação judeu-árabe +972 relata as manifestações de 14 de Maio em comemoração da Nakba:

À sombra do que muitos palestinianos descrevem como uma segunda Nakba em Gaza, cerca de 15.000 “cidadãos palestinianos de Israel” participaram na “Marcha do Retorno” anual, na terça-feira. Depois de se terem reunido na cidade de Shefa-Amr, no norte do país, os participantes marcharam até ao local de Hawsha e Al-Kasair, aldeias palestinianas cuja população foi expulsa à força durante a Nakba de 1948 e subsequentemente destruída.

Embora o Dia da Nakba seja oficialmente celebrado a 15 de maio, a Marcha do Retorno tem lugar todos os anos no “Dia da Independência de Israel”, sob o lema: “A independência deles é a nossa Nakba”. Nos últimos anos, a marcha tornou-se o acontecimento central da mobilização dos “cidadãos palestinianos de Israel”, reunindo todos os grupos e forças políticas. É organizada pelo Comité de Defesa dos Direitos das Pessoas Deslocadas em Israel, que escolhe como destino um dos 600 colonatos palestinianos destruídos pelas milícias sionistas e israelitas entre 1947 e 1949.

O número de palestinianos expulsos ou forçados a abandonar as suas casas durante estes anos, e depois impedidos de regressar, ronda os 750.000; o número de pessoas deslocadas em Gaza desde 7 de Outubro ultrapassa 1,9 milhões. (…)

A jornalista ativista Makboula Nassar, membro do comité organizador, explica: “Enquanto marchamos para sublinhar o nosso compromisso com o direito de regresso reconhecido pelas Nações Unidas, centenas de milhares de palestinianos, filhos e netos daqueles que foram expulsos em 1948, estão mais uma vez a sofrer deslocações maciças” (…).

Para além do ataque a Gaza, a marcha deste ano decorreu num contexto de repressão por parte do governo israelita de extrema-direita. Desde que chegou ao poder há um ano e meio, este governo (…) aumentou o número de demolições de casas, a última das abrangeu uma aldeia beduína inteira no deserto do Negev, na semana passada, para ampliar uma autoestrada. (…)

Salwa Copty, membro do comité organizador e ela própria expulsa da aldeia de Ma’aloul durante a Nakba (1948), estabeleceu paralelismos entre a sua própria experiência e o que os palestinianos de Gaza enfrentam atualmente: “Crianças subitamente privadas de casa, sem família, cenas de deslocação em massa, tudo isto me faz lembrar a minha infância”, disse ela ao +972 (…). “Vejo-me como uma criança nos olhos de todas as meninas de Gaza”. (…)

Tamer Nafar, um rapper e actor palestiniano, disse ao +972 (…): “A manifestação era composta por jovens e idosos, homens e mulheres, bebés e adolescentes (…). Foi muito comovente ver crianças a participar na marcha, cantando canções nacionais palestinianas. Há muito tempo, os dirigentes israelitas pensavam que a terceira geração da Nakba iria esquecer.  Esta é a quarta geração, e eles ainda se lembram.